Nota do Autor: mais de uma vez eu já citei aqui nesta página que eu gosto de inventar significados para os nomes dos meus personagens e também dos países que eu criei. Este curto texto abaixo originalmente serviria apenas para explicar as origens dos nomes Arlon e Erdan mas resolvi usá-lo para contar um pouco mais da origem dos dois grandes reinos.
Por muitos séculos, no norte do continente de Noritvy, existiu a casa de Krak, liderado por Wutan Krak, um elfo atarracado para os padrões éficos, de cabelos cor de neve. Wutan teve três filhos: Trenk, filho de sua primeira esposa que morrera no parto, e os gêmeos Tiron e Tauron, frutos do seu segundo casamento. Quando Trenk nasceu, alguns aconselharam Wutan a entregar o filho para ser criado por parentes distantes ou mesmo abandoná-lo na floresta, pois consideravam o fato da mãe da criança ter morrido no parto um sinal de mau agouro e que ele traria desgraças à casa. O elfo disse se tratar de bobagens e lembrou que um Krak nunca abandonaria outro, logo, ele não seria o primeiro a quebrar essa tradição.
Trenk, dos três filhos, era o mais parecido com o pai em aparência, porém o mais distante em personalidade. Enquanto o pai normalmente adotava a neutralidade diante dos conflitos que envolviam as demais casas da região e era respeitado por todos como um líder sábio, que se impunha mais pelas palavras do que pela força, um grande advogado da paz, Trenk era estourado, precipitado e acreditava, como muitos nobres na região, que a paz só viria da força, que uma paz estabelecida por palavras era uma paz frágil.
Quando Wutan faleceu, oficialmente por ter pego uma gripe (o que era imensamente raro para um elfo), embora muitos desconfiassem de envenenamento ou alguma maldição, vários vassalos levantaram a ideia de escolher um dos gêmeos para suceder o pai no comando da casa, mas estes, de cara, recusaram, pois sabiam que era o desejo do pai ser sucedido por Trenk.
O amor de Wutan por seu primogênito acabou por cegá-lo para os defeitos do filho. Este, assim que se estabeleceu como novo senhor da Casa de Krak, e, por consequência, governante das terras controladas por estas e por suas casas vassalas, passou a governar com mão de ferro, aplicando na prática a suas ideias de que a paz só viria pela força e pelo medo. Alguns vassalos descontentes procuraram os irmãos caçulas dele, mas tanto Tiron quanto Tauron se recusaram a pegar em armas contra o próprio irmão, afirmando que era preciso dar tempo ao tempo para este se acostumar ao seu novo cargo.
O tempo passou, mas as coisas não melhoraram no norte. Por mais que os gêmeos tentassem aconselhar o irmão, este cada vez mais se distanciava dos ideias do seu pai, não só governando com mão de ferro, como se metendo militarmente nas contendas dos vizinhos, algo que o antigo rei nunca fizera, até que a casa de Krak se viu no meio de uma grande guerra que eles mesmo, sem querer, haviam ajudado a iniciar.
Tanto Tauron, quanto Tiron, desejavam que o irmão, seguindo as ideias da casa de Krak, de honra e justiça, apoiasse o lado que tinha razão naquela guerra, que tinha sido injustamente atacado pelos vizinhos, mas Trenk os ignorou e optou por apoiar o lado que lhes oferecia as melhores recompensas financeiras e políticas.
A gota d’água veio quando Trenk permitiu que um dos seus capitães estuprasse a filha de um adversário político na frente do pai desta só para humilhá-lo. Revoltados com tal ato de depravação, os gêmeos renunciaram formalmente aos seus títulos, ao seu nome e ao seus laços com a casa de Krak e, seguindo o conselho da mãe deles, que se recusou a partir, preferindo ficar ao lado do túmulo do marido, partiram para o sul, rumo ao reino de Sudher, fundado pela filha de Antigon, o último rei uno dos elfos e que era um parente distante por parte de mãe.
Liderando uma caravana de refugiados, formada basicamente por idosos, crianças, mulheres e feridos, fugindo da perseguição do próprio irmão, que se sentira humilhado com a atitude deles, os dois príncipes desceram seguindo o Grande Rio Central, que nasce no norte e desaguava justamente nas terras que eles visavam alcançar. Depois de meses de uma exaustiva viagem, quando se encontravam um pouco acima do ponto onde o Rio Cinzento, que nasce nas Montanhas Negras, deságua no Grande Rio, a tropa liderada pelos dois irmãos foi recebida pela visão de um claro vale que lhe dava a certeza de que o pior havia ficado para trás. Este vale fora formado pelas águas do Grande Rio Central, cujas margens eles seguiam desde que fugiram do norte. No meio deste vale, abraçada pelo braços do cristalino rio, havia uma verdejante ilha onde eles decidiram acampar. Nesta ilha, mais tarde, seria fundada a cidade de Arlon, cujo nome, em élfico antigo, significa justamente “Claro Vale“.
Parte dos refugiados, cansados, decidiram ali permanecer em vez de seguir viajem rumo ao sul. Tiron decidiu que ele ficaria ali, junto com metade dos soldados que os escoltavam desde o norte, enquanto o seu irmão Tauron seguiria com o restante dos soldados e dos refugiados rumo ao sul, como desejava desde o início.
Tauron e o restante da comitiva seguiram até o sul e se estabeleceram numa grande campo fértil que ficava à noroeste do delta do Grande Rio e que era o limite superior do Reino de Sudher. O rei deste, surpreso com a história dos dois príncipes e sentido compaixão pelo povo que os acompanhavam, resolveu ajudar estes com recursos e conselhos.
O grupo liderado por Tauron acabou por fundar uma cidade no local onde haviam acampado e esta foi batizada de Erdan, “campo verde” em élfico antigo, onde, verde, neste caso, significa fértil. Tauron acabou sendo aclamado rei da cidade enquanto Tiron foi aclamado rei de Arlon.
Os irmãos acabaram adotando como nome de sua casa o apelido que eles haviam recebido dos nobres de Sudher, “Fornorimar”, cujo significado era “Senhores das Terras do Norte”.
Lentamente, com passar dos anos, de maneira pacífica, os reinos foram se expandido, com Arlon acabando por ocupar todo a área situada entre as Montanhas Negras e a Cordilheira Central, enquanto Erdan acabou absorvendo as terras do delta do Grande Rio depois que o reino de Sudher deixou de existir.
Ao longo dos séculos, os reinos de Arlon e Erdan, que também passaram a ser conhecidos como “os reinos élficos”, se tornaram forças importantes na região central do grande continente de Noritvy, ajudando a manter a paz neste. Talvez por seus fundadores terem fugido de uma guerra fratricida no gelado norte, os seus reis, mais do que ninguém, sempre se esforçaram para não ver a tragédia que os expulsou do gelado norte se repetir nos seus novos lares.