O Bosque Branco

Parte 2

No dia seguinte, como haviam combinado, bem cedo, junto com os primeiros raios de sol do dia, as três jovens partiram rumo ao Bosque Branco, como o destino delas era chamado pelos locais.

Depois de uma rápida cavalgada de pouco mais de meia hora, elas chegaram ao seu destino. O bosque fazia jus ao seu nome: era um grande agrupamento de raros pinheiros brancos, assim chamados por possuírem troncos em tons de branco e cinza claro, diferente dos tons escuros dos pinheiros habituais e eram árvores grandiosas, que passavam facilmente dos vinte e cinco metros de altura.

Cercando o bosque, mas distando mais ou menos uns cinco metros das árvores mais externas deste havia uma pequena muralha de pedras cinzas claras de mais ou menos meio metro de altura. Esta contornava todo bosque, à exceção do ponto onde ela se encontrava com a estrada pela qual as jovens haviam viajado. Nesse ponto havia um arco de pedra todo trabalhado com inscrições élficas e, junto deste, se encontravam dois sentinelas élficos, que usavam armaduras de couro leves por cima de uma cota de malha prateada clara, capacetes metálicos cônicos, portavam escudos e lanças e que conversavam de maneira distraída, como se nem estivessem de guarda.

Num primeiro momento, tal muro baixo e tais sentinelas distraídas poderiam enganar quem não conhecesse o bosque pois, de fato, não parecia nada com o lar de uma tribo isolacionista mas os guardas estavam ali apenas para receber possíveis visitantes e a muralha apenas servia para marcar o limite daquilo que realmente protegia o Bosque: uma grande muralha mágica invisível, gerada à partir de um templo que ficava preso na lateral de um gigantesco pinheiro, situado no meio do bosque.

A acalorada discussão dos dois guardas sobre qual havia sido a melhor safra de geleia de sabugueiro da última década foi interrompida pela chegada das três jovens.

Rosa, com seus longos cabelos loiros ondulados que caiam em cascata sobre os ombros, refletindo a luz da manhã, vestia uma calça justa verde acinzentada, que lhe permitia mover-se com agilidade, uma blusa verde clara com um colete de couro claro por cima, reforçando esta (e ressaltando o seu busto), botas de couro marrom que iam até o joelho, práticas e elegantes. Trazia uma adaga presa na coxa direita, pronta para a ação.

Um cinto de couro de cor marrom clara e fivela dourada apertava sua cintura, com vários bolsos onde ela carregava ferramentas e outros itens que lhe poderiam ser úteis. Sobre tudo isso, uma capa verde ondulava, presa por um broche verde musgo.

Jasmin, por sua vez, com seu longo cabelo loiro ondulado que brilhava sob o sol da manhã como um rio de ouro, diferente do da sua irmã, penteado para trás e amarrado atrás da cabeça, revelando totalmente seu lindo rosto, vestia uma calça num tom de castanho cuja tonalidade mudava sutilmente para cinza como se fosse tocada por magia, mais larga que a da irmã, uma blusa rosa, com um colete reforçado de cor lilás pálida por cima desta. Por cima de seu tórax, em diagonal, uma alça de couro cinza claro segurava um pequeno livro, com páginas repletas de encantos antigos e notas práticas.

Uma bolsa pequena se encontrava presa na cintura, carregando unguentos e pequenos frascos com algumas poções potentes. Seu cinto, feito do mesmo couro cinza que a bolsa e a alça, era adornado com bolsos que escondiam ingredientes para feitiços e poções que poderiam vir a ser úteis na sua jornada. Calçava botas cinzentas que iam até um pouco abaixo do joelho.

Por fim, sua capa roxo-acinzentada, ondulando ao vento, segurada por um medalhão cinza metálico, completava o seu visual, dando a jovem um ar de mistério e de portadora de informações sobre segredos ocultos e reinos esquecidos.

Por fim, das três, Galawel era a que chamara mais atenção dos guardas. Diferente dos cabelos das suas primas, que brilhavam como ouro, seu cabelo castanho claro brilhava sobre o sol da manhã como se fosse feito de fios do mais puro âmbar. Suas roupas e sua postura entregavam claramente que era uma guerreira experiente.

A jovem usava uma calça marrom clara, justa, calçava botas de couro azulado que iam até os joelhos, vestia uma blusa azul acinzentada clara e, por cima desta, um peitoral metálico com uma cruz azul cobalto clara desenhada no centro deste.

Usava protetores de antebraço e luvas feitas do mesmo material das botas, um cinto cinza na cintura com alguns bolsos, trajava uma capa cinza com a barra rasgada por cima de tudo (capa que ela dizia ser a sua capa da sorte) e suas duas espadas presas na cintura.

Ao ver pela primeira vez o peitoral que ela usava, suas primas não resistiram e perguntaram se ela estava fantasiada de “presidente do fã clube do Cavaleiro Branco” ou se era uma “tentativa inútil de puxar o saco do pai dela, o que era desnecessário já que ela já era a favorita do papai” dado ao fato do peitoral lembrar, vagamente, a armadura que o pai dela usava quando agia como o Cavaleiro Branco.

Galawel retrucou as primas, dizendo que não ia se baixar ao nível de imaturidade delas, respondendo apenas mostrando o dedo médio da mão direita.

Rosa, Gala e Jasmin, desenhadas usando o FH

– Alto lá! Quem sois vós? – perguntou o mais alto dos guardas.

– Eu sou Rosa Bianchi, filha do Duque de Swordia, esta é minha irmã Jasmin e minha prima Galawel, que nos serve de escolta. Nós somos enviadas do Rei Tiron, senhor de todas as terras que vão desde as Montanhas Negras até as Cordilheiras Centrais e solicitamos uma audiência com vosso senhor, o Ancião Mor do Bosque Branco.

– Vosso senhor, não nosso, o único senhor que temos é o Ancião Mor e as audiências com o Ancião já se esgotaram esse mês, volte mês que vem e talvez ele as atenda – retrucou o guarda com desdém, se virando de costas para elas para retomar a sua “importante” discussão com o colega.

Rosa se preparava para dar uma resposta atravessada quando tomou um discreto beliscão de Gala. Ela entendeu claramente a mensagem da prima e se lembrou do que o Visconde havia dito na noite anterior.

– Espere!

– Eu acho que já fui claro, senhorita.

– Por favor, me escute, peço apenas cinco minutos do vosso importante tempo – falou ela, já apelando para o ego do guarda.

– Ok, cinco minutos apenas.

– Vós faleis que o Ancião é o senhor deste bosque e faleis com razão. Mas tanto eu quanto a minha irmã somos descentes diretas de Antigon, o último rei uno dos elfos, a quem o Ancião está ligado por laços de vassalagem. E é em nome desses laços que solicito que ele nos receba. Não vou perguntar se acreditas em mim pois tenho certeza de que um alto, potente e garboso guarda como vós é capaz de fazer um simples feitiço de detecção da verdade e sabeis que estou a falar a verdade, não é mesmo?

– Sim, claro, um feitiço como esse é muito simples e é óbvio que eu sei fazê-lo. Mas, mesmo assim, preciso conversar com o meu colega.

O guarda se afastou para conversar com o outro guarda enquanto Galawel avisava as primas, por telepatia, que ele mentira e que, diferente dela, ele não era capaz de detectar mentiras.

– E aí? O que a gente faz? – disse o guarda, aflito para o outro.

– Eu sempre falei que a gente tinha que ter prestado mais atenção nas aulas de detecção de mentira.

– Isso não importa. O que a gente faz?

– Manda embora, ué – retrucou o outro guarda enquanto tirava uma meleca do nariz. – Ou manda elas voltarem amanhã, que elas se tornem problema de outro.

– É, só que amanhã é o Stan que está de guarda e ele sabe detectar mentiras. E se elas estiverem falando a verdade? Tens noção da bronca que levaremos por barrar a entrada de descentes do grande Antigon?

– Vai ser uma bronca e tanto. Mas se elas estiverem mentindo? Como iremos justificar isso?

– Eu tenho uma ideia.

– Qual?

– Basta dizermos que aquela moça com blusa verde, cujos busto está quase pulando para fora desta, usou um feitiço de sedução para nos convencer.

– Aquela com ar de messalina?

– Sim, essa mesmo. O Ancião Mor odeia esse tipo de feitiço, ele vai ficar tão furioso com ela que vai até esquecer de dar bronca na gente.

– Brilhante! Vamos chamá-las então.

Ao mesmo tempo, as três companheiras esperavam a decisão dos guardas conversando baixinho, em português, como faziam quando não queriam que os outros entendessem o que elas falavam.

– E aí, Jas? O teu feitiço deu certo, conseguistes entender o que eles estão conversando? – perguntou Rosa

– Sim

– E?

– Bom, fora terem te chamado de puta, irmã, eles vão permitir a nossa entrada.

– Eu vou mostrar para eles quem é puta…

– Agora não, Rosa, depois você se vinga – interveio Galawel. – Agora vamos ficar quietas que eles estão vindo aí.

Desta vez foram os dois guardas que se aproximaram das moças.

– Bem, senhoritas, em nome do vosso parentesco com o grande Antigon, seremos benevolentes e as guiaremos até o Ancião Mor. Queiram por favor nos seguirmos – falou o guarda mais alto, o que até então interagira com elas.

Como solicitado, elas os seguiram. Um deles encostou uma das mãos em uma das pedras do arco de entrada e um discreto brilho diáfano que existia por dentro deste, como se fosse um suave véu de luz por um momento desapareceu. Naquele momento a barreira que existia no arco de entrada para impedir a entrada de estranhos se desfez, permitindo que as viajantes pudessem finalmente adentrar o Bosque Branco.

As jovens foram conduzidas por uma estrada de pedras amareladas que cortavam o bosque e as levariam até o seu destino.

– Totó, definitivamente não estamos mais no Kansas – sussurrou Rosa.

– Você está convivendo demais com o vovô e com o meu pai. Tá fazendo as mesmas piadas – retrucou Galawel.

– Só uma pergunta: se a Rosa é Dorothy, quem nós duas somos?

– Sem comentários, Jas, sem comentários – resmungou Gala. – Agora vamos ficar quietas e evitar dar motivos para eles desconfiarem da gente, certo?

O grupo, agora formado por cinco pessoas, caminhou por mais ou menos quarenta e cinco minutos, seguindo o caminho que havia sido apelidado por Rosa de “estrada dos tijolos amarelos” até chegarem à grande clareira central do Bosque.

Fim da Parte 2

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