O Bosque Branco

Parte 3

A clareira, situada no coração do bosque, era delimitada por pinheiros de tronco branco que se erguiam majestosamente, com suas copas parecendo que tocavam o céu. A luz do sol daquela bela manhã, filtrada pelas folhas formava múltiplos padrões geométricos dourados no chão da grande clareira. No centro desta havia um pequeno lago e, junto deste, um círculo de pedras antigas que marcava um local de poder, onde os elfos do bosque se reuniam para cerimônias e celebrações.

Os lares élficos eram construídos a muitos metros do chão, verdadeiras maravilhas de engenharia, se equilibrando nos troncos das árvores. As casas eram feitas de materiais naturais, advindos do próprio bosque: folhas secas, cascas de árvores e musgo. Janelas arqueadas revelavam interiores iluminados por velas e tochas e, embora as jovens, do solo, não conseguissem ver o interior das casas, elas tinham certeza de que estas deveriam ser acolhedoras e aconchegantes. Passarelas tecidas com cordas e tábuas de madeira conectavam os lares, permitindo que os elfos se movessem entre eles sem precisar pisar no solo.

O ar parecia estar impregnado com magia, e o som suave do vento nas folhas parecia sussurrar histórias antigas, de um tempo que foi e que não voltará mais. Todo aquele cenário deixava claro que as histórias dos elfos vivendo em harmonia com a natureza, protegendo o bosque e mantendo seu encanto eram reais. 

Se a beleza do Bosque chamara a atenção delas positivamente, a aparência do povo que lá vivia, por outro lado, as impressionou de maneira negativa.

Tradicionalmente, no mundo de Noritvy, os elfos tinham a fama de ser o mais belo dos povos e, dentre estes, os altos elfos eram louvados, nas lendas e nos contos dos trovadores, como o ápice da beleza e perfeição, mas, bem, não era isso o que elas viam ali.

O que elas viram foi um povo comum, nem belo nem feio, comum apenas. Havia algumas pessoas bonitas? Sim e até algumas lindas conforme os mitos, mas havia pessoas feias também, pessoas com deformações físicas e pessoas comuns.

Rosa sabia que não era o momento de falar, mas a vontade dela de comentar se mostrava mais forte do que o seu bom senso.

– Cadê o povo lindo cantado em prosa e verso pelos trovadores? – sussurrou ela, em português, para a irmã e para a prima.

– Você não segura essa língua, né prima? – resmungou Gala. – E, respondendo à sua pergunta, se eu tiver que arriscar um palpite, – acho que ocorreu aí um caso de “Habsburgo Espanhol” em série.

– Hã, Gala, como diria os seus irmãos, dá para traduzir?

– Ah, claro, Jas, claro. Lembram quando vocês ficaram me ajudando a estudar para o vestibular? Que vocês ficaram interessadas em biologia e, principalmente, em genética? Pois a genética já mostrou quando você tem uma série grande de casamentos consanguíneos, a chance de surgir deformações e doenças genéticas aumentam muito. Mesmo em povos que possuem uma baixíssima incidência dessas como os elfos. E, pelo que me conste, os elfos daqui não costumam se casar com forasteiros, então temos aqui séculos e séculos de casamentos consanguíneos. Só podia dar “m”.

– Agora eu entendi. Mas seus pais e seus avós paternos não são parentes? E ninguém entre seus irmãos aparentemente apresentaram qualquer defeito. E não explicastes ainda o que tem a ver o tal de “Habsburgo”.

– Habsburgo foi uma família real que governou alguns países da Europa. O ramo espanhol deles, que governava a Espanha, tinha o péssimo hábito de casar-se entre eles, sendo que o último monarca do ramo espanhol era coxo, corcunda, com dificuldade de falar e estéril. Já meus avós são primos de terceiro grau, um parentesco genético distante, meus pais então, já perdi a conta no grau de distanciamento deles, afinal o bisavô do meu pai é meio irmão da avó da minha mãe, ou seja, geneticamente distante. Agora se uma de vocês inventar de virar minha cunhada, aí sim o risco de doença aumenta.

– Esse risco não existe. Miguel já tá comprometido há muito tempo e o João, por mais que seja uma gracinha, é um irmão caçula para mim. Sem chance – retrucou Rosa.

– Sim, eu concordo com a Rosa, eu vejo os dois como irmãos caçulas, por mais bonitinhos e fofos que eles sejam.

– Fico feliz em ouvir isso porque ninguém merece ter vocês como cunhadas. E agora vamos parar de fofoca pois os guardas já olharam para cá umas quatro ou cinco vezes.

Um pequeno grupo de elfos velhos como o tempo, com os seus rostos cobertos de rugas, vestindo longas túnicas brancas, que iam até o chão, com desenhos de galhos verdes no peito e mangas brancas largas que escondiam suas mãos as esperava junto do círculo de pedras antigos.

As três companheiras de viagem logo perceberam quem destes devia ser o tal “Ancião Mor do Bosque”: era o mais novo deles, não que tivesse uma aparência de novo, pois parecia tranquilamente mais velho do que o Rei de Arlon, sendo que este já passara de um milênio e meio de idade.

Sua túnica possuía detalhes dourados na gola do pescoço, detalhes dourados e verdes nas pontas das mangas, vestia um cinturão amarelo com fivela verde na cintura e, preso neste, três grandes franjas douradas com desenhos geométricos verdes e uma coroa de louros adornava sua cabeça. Por fim, seus longos cabelos loiros, quase brancos, se encontravam soltos, apenas penteados para trás.

O Ancião Mor, desenhado no FH

Aquele que de fato realmente era o Ancião Mor se adiantou e tomou a palavra. Sua voz ressoava pela floresta como um sussurro dos tempos antigos.

– Vós sois as jovens que alegam ter o sangue do grande Antigon, nosso antigo suserano e responsável por nos conceder o nosso lar?

– Com todo respeito, vossa excelência e, de primeira, já peço desculpa se eu soar impertinente diante de vossa augusta pessoa, mas nós não alegamos nada, senhor, eu e minha irmã aqui do lado somos descentes diretas de Alaria, filha única de Antigon, o último rei uno dos elfos – respondeu Jasmin, tomando à frente pois sabia que neste momento ela seria mais diplomática que sua irmã Rosa. – E tenho certeza de que uma pessoa grandiosa como vós é capaz de distinguir uma simples mentira da verdade.

– Sim, de fato faleis a verdade. E é em nome deste laço sanguíneo que serei generoso em conceder cinco minutos de meu precioso tempo. Mas antes quem é esta moça localizada atrás de vós que adentrou minhas terras pronta para ir para a guerra?

– Esta, vossa excelência, é nossa prima, Galawel Bianchi, que nos serve de escolta nessa missão diplomática. Tens minha palavra que nada tens a temer com relação a ela.

– Eu nada temo, mocinha, não enquanto estou em minhas terras. Mas fale, diga o seu propósito, vosso tempo está esgotando.

Rosa se preparou para dar uma resposta atravessada, mas tomou uma cotovelada de Galawel e calou a boca.

– Claro, entendo que vosso tempo é preciso para perder com simples forasteiras. Nós precisamos de vossa ajuda, vossa excelência ou, para ser mais precisas, precisamos ter acesso à vossa preciosa biblioteca mágica. Aventureiros irresponsáveis quebraram o selo que prendia os gafanhotos de fogo de Mergoth e agora eles ameaçam todas as nações do continente. E foi nos relatado que na vossa biblioteca existe uma cópia do feitiço que os prendeu da outra vez. Só o que pedimos é acesso à esta para copiar o tal feitiço.

– Os gafanhotos de fogo? Lembro-me deles, pestes irritantes e, de fato, estas corretas, temos a cópia do tal feitiço. Mas nem eles são capazes de penetrar em nossa barreira, então por que eu deveria me importar com isso? Por que eu deveria permitir o acesso à um dos nossos lugares sagrados à simples estrangeiras por algo que não nos diz respeito?

– Por piedade, vossa excelência, por piedade. Entendo vossos augustos argumentos, mas sei também que vós manteis um pequeno comércio com as vilas vizinhas e estas serão afetadas por este mal se ele não for contido. Não sentis pena deles? E, por fim, apelo à vossa generosidade. Antigon foi generoso com o vosso povo quando garantiu um lar a vós. A rainha de Arlon, vosso reino vizinho, que vem a ser nossa tia, irmã de nossa falecida avó, é neta de Antigon. Por que não retribuir a generosidade dele sendo generoso com ela?

– Há sabedoria em vossas palavras, senhorita e vós mostrais como se portar diante de nosso conselho de anciões então creio que não me custará nada debater sobre vossa demanda com os demais anciões. Em deferência ao fato de vós duas serem da descendência de Antigon, pedirei que sejais conduzidas ao salão de hóspedes. Vossa prima poderá esperar num quartinho de ferramentas junto dos estábulos.

– Junto dos estábulos? Com todo o respeito, vossa excelência, minha prima é capitã do Reino de Arlon, cujas terras circundam vosso bosque e sobrinha neta do rei deste. Já vos garanti que ela não oferecesse nenhum risco a vosso conselho. Não tens por que tratá-la como se fosse uma criminosa.

– Calma, Jas, não tem problema, te garanto que já dormi em lugares piores. Vamos ser diplomáticas.

– Isso, irmã, a Gala está certa, sejamos diplomáticas.

Dito isso, Rosa, estufou o peito, acentuou o decote da blusa que usava, empinou de leve o bumbum e foi até o ancião mor.

– Tem certeza de que o senhor não poderia ao menos fazer uma exceção desta vez e permitir que a nossa prima espere conosco? – disse a elfa com uma voz melodiosa, que mais parecia um canto de uma sereia

– Tens coragem de tentar usar um feitiço de mau gosto como esse de sedução na minha frente, minha jovem e, em honra à essa coragem, eu farei essa concessão. Mas não ouse usar novamente tal magia de mau gosto dentro do meu bosque ou a banirei daqui, junto com as suas companheiras.

– Claro, sim senhor – disse Rosa num misto de decepção e espanto por ver alguém resistir ao seu feitiço.

– Ah, e antes de partires para o salão de hóspedes, queira por favor libertar os meus soldados do efeito do feitiço.

– Ah, sim, claro, obviamente.

As três jovens conversavam baixinho enquanto seguiam o guarda que tinha ficado com a missão de conduzi-las até o tal salão de hóspedes.

– Eu não acredito, é a primeira vez que o meu feitiço falha. E logo com um velho com cheiro de mofo. Só pode ser isso, como diria o tio Lucca, a “pipa do vovô não sobe mais” e por isso o feitiço falhou.

– Olha, prima, a julgar pela pequena “barraca armada” que surgiu no manto dele, eu diria que o seu feitiço foi bem efetivo e ele não fez uma exceção só por causa da sua coragem não…

– E eu concordo com a Gala, irmã, para mim o ancião pareceu é estar se segurando para não se render totalmente a ti.

O salão de hóspedes era uma das poucas construções ao nível do solo no bosque. Era uma aconchegante casa de madeira, com um pé direito alto, lindas janelas redondas e um telhado feito de musgo e palha.

Ao entrar nesta o visitante dava de encontro com um grande salão, amplo, com uma lareira situada no centro deste e confortáveis espreguiçadeiras dispostas em torno deste.

Havia três criadas elfas esperando por elas no salão. Elas convidaram as visitantes a se deitarem nas espreguiçadeiras enquanto serviriam um chá com torradas e geleia de sabugueiro.

Para o espanto das jovens, que esperavam ser tratadas de maneira seca, como haviam sido tratadas pelo Ancião, elas foram muito acolhidas e, de fato, o chá e a geleia era tão bons quanto as criadas haviam garantido. O ambiente era tão calmo e aconchegante que elas quase cochilaram apesar de toda a tensão em torno da missão delas.

Muitas horas se passaram, uma refeição foi servida a elas e finalmente elas foram convocadas para ouvir a resposta do conselho.

As três primas foram conduzidas por uma escada em caracol que contornava um dos pinheiros do bosque que as levou até um grande salão construído a uns 3 metros de altura do solo. A disposição deste lembrava muito o do salão de hóspedes, com uma grande lareira no centro e, em torno desta, dispostas do lado contrário do portão de entrada havia uma série de liteiras, cada uma delas ocupada por um dos anciões. O ancião mor se levantou, fez uma pequena deferência às jovens, o que momentaneamente as encheu de esperança, esperança essa que morreu logo que ele abriu a boca.

– Minhas jovens, refletimos sobre a demanda. De fato, vós se encontreis com um grande problema em mãos, mas nossa biblioteca é um lugar sagrado, cujo acesso é restrito para aqueles que tem o direito de pisar lá. É nossa responsabilidade proteger os conhecimentos lá contidos, para que não caiam em mãos erradas. O acesso lá é somente para que tem poder para lidar com os conhecimentos lá armazenados, com a capacidade e a habilidade de lidar com eles de maneira responsável. Infelizmente, nesse momento, não poderemos ceder o acesso a vós. Mas continuaremos a debater o assunto. Retorneis em quinze dias e talvez tenhamos mudado de ideia.

– Com todo o respeito, vossa excelência, quinze dias é muito tempo, até lá boa parte das nossas lavouras poderão estar comprometidas – disse Galawel, finalmente tomando a frente das conversas.

– Senhorita, isso é problema vosso, não nosso, como dizem os jovens, estaremos “torcendo” por vós, mas a nossa resposta é definitiva. Guardas, queiram levá-las para fora do bosque.

Galawel, se preparava para levar a mão direita a uma das suas espadas quando foi contida por sua prima Rosa.

– Calma, Gala, ainda não precisamos recorrer à força. Ainda temos uma saída pacífica.

– Temos?

– Prima, nunca parastes para pensar por que eu me especializei em magias de charme e de controle?

– Não, mas o que isso tem à ver com a situação, Rosa?

– Tudo.

A elfa chegou junto da sua irmã gêmea, Jasmin e sussurrou no ouvido dela: “irmã, está na hora de desabrochar”.

Um sorriso surgiu no rosto da normalmente contida Jasmin enquanto uma aura violeta envolvia o corpo dela, fazendo-a flutuar alguns centímetros acima do chão. A elfa abriu a boca e, de uma maneira firme, ela declarou:

“Eu sou Jasmin Arin Bianchi. Minha mãe é vista por muitos como uma mistura de poder e moderação, meu pai, como a representação da honra e da sabedoria. Mas eu não me sinto nem moderada nem sabia hoje. Vós fizestes pouco de minha família, de minha prima que para mim é cara como uma irmã. Vós escondeis vossa prepotência, vossa arrogância, vosso desprezo por aqueles que consideram inferiores através de palavras vazias como “direito”, “capacidade”, “habilidade”, “responsabilidade” e “poder”. É capacidade de lidar com o conhecimento de vossa biblioteca que exigem de nós? É poder para lidar com o tal conhecimento? Espero que esse poder esteja ao seu contento”.

A elfa elevou a mão direita em direção ao alto e um raio violeta cortou os céus, entrou através da varanda que havia na entrada do salão, iluminando este e deixando uma marca de queimado no chão.

Parte do conselho ancião se encolheu de medo, diante da demonstração de poder. Só o ancião mor teve coragem de se adiantar e falar:

– Diante de tal demonstração, creio que posso fazer uma concessão e permitir vossa passagem. Mas não abusem da minha boa vontade. Sigam pela porta dos fundos à minha direita e subam a escada à esquerda, atravessem a ponte e vocês chegarão à biblioteca, o livro que procuram está no terceiro andar, décima estante à esquerda, sétima prateleira, décimo quinto livro da esquerda para a direita.

Rosa abraçou a irmã e falou:

– Jas, já deu, chega.

– Eu exagerei de novo né? – respondeu Jasmin, sem graça, já não brilhando mais.

– Eu diria que você apenas falou o que eles precisavam ouvir – sorriu Gala enquanto fazia um cafuné na cabeça da prima.

As três passaram pelo conselho, que ainda se encontrava parado no mesmo lugar. No meio do caminho, Gala começou a rir.

– Tu estás bem, Gala? – perguntou Rosa.

– Tô ótima.

– Então tá rindo por quê? – retrucou Jasmin.

– Porque eu não podia rir na cara do conselho, mas agora não preciso mais me conter. “Fazer uma concessão” é o cacete, como diria o meu pai. O conselho todo se cagou de medo de você, priminha, inclusive o ancião mor – explicou Gala, em português, pois, mesmo elas tendo tomado uma distância, ainda assim não queria arriscar que ninguém entendesse o que ela estava falando. – Todos pomposos, arrogantes e bastou a Jasmin se soltar um pouco para se cagarem de medo, alguns literalmente se o meu nariz não me enganou. Agora, acho que se eles se cagaram com o raio da Jas, a mãe de vocês e a minha teriam provocado um enfarto em um ou dois… E, Rosa, se essa é a sua ideia de uma saída pacífica, não quero saber o que consideras uma saída violenta.

As jovens seguiram pelo caminho indicado e chegaram, em poucos minutos, à biblioteca. Era uma construção fascinante: um grande prédio de madeira que mais parecia uma catedral, com três torres e um grande vitrô redondo de vidros coloridos que pairava acima da portão de entrada. Tudo isso construído a mais de seis metros de altura, preso no tronco de uma gigantesca árvore.

Sem titubear elas entraram no prédio, atravessando o grande portão de madeira cinzenta rico em entalhes com escritas élficas pintados com tinta dourada. Um cenário lindo as aguardava. A luz, filtrada pelos vidros, iluminava o salão principal da biblioteca numa miríades de cores. Se pudessem elas ficariam ali apreciando o local por horas, mas o tempo era inimigo delas.

– Vocês lembram em qual prateleira ele disse que o livro estava? – perguntou Galawel.

– Ué, a senhorita detalhista não gravou isso? – provocou Rosa. – Mas não é preciso lembrar, né Jas?

– Não mesmo.

A loira elfa pegou o livro que trazia na alça de couro junto do peito, folheou este até achar o que queria. Murmurou algumas palavras num idioma há muito morto, esquecido e que poucos naquele mundo ainda eram capazes de pronunciar e um pequeno beija flor dourado surgiu no ar.

– É só seguir o passarinho que ele nos mostrará o caminho.

As três seguiram a pequena ave feita de energia e esta os conduziu de fato ao terceiro andar e à décima estante à esquerda, mas o livro se encontrava na oitava prateleira e era o décimo segundo da esquerda para a direita.

Jasmin rapidamente localizou o feitiço que elas tanto precisavam obter. Fez uma cópia deste no seu livro, afivelou esse firmemente na alça peitoral para garantir que este não cairia e logo elas já estavam partindo da biblioteca.

Ao saírem desta notaram que tropas de elfos armados vinha de várias pontes suspensas, todo em direção à árvore onde elas estavam, pois, pelo jeito, o “generoso” Ancião Mor mudara de ideia. Sem titubear, Galawel agarrou as primas pela cintura e pulou da plataforma da biblioteca em direção ao chão. O que pareceu um ato de loucura para alguns daqueles que presenciaram tal cena para ela foi algo simples pois ela dominava a magia de flutuação com maestria.

As três pousaram no solo com tal leveza que nenhum grão de poeira sequer levantou. Elas correram com todas as suas forças pela estradinha de tijolos amarelos e pareciam que iam sair do Bosque sem mais percalços quando o seu caminho foi bloqueado pelo Ancião Mor e por um grupo de soldados de elite.

– Minhas primas me deteram antes, mas elas não vão me deter agora – falou Galawel, já sacando as suas duas espadas – Saia da frente, “vossa excelência”, ou descobriras da pior maneira a fúria da Capitã da Guarda Real de Arlon.

– Bah, não temo a fúria de uma criança que mal largou os cueiros. Mas eu tenho uma solução mais simples. Basta essa mocinha aí – e, ao falar isso, o ancião apontou o dedo para Jasmin – ficar e assumir para ela o destino que era da avó dela: ser nossa nova sumo sacerdotisa. Sim, eu sei de quem vós descendeis, o sobrenome Arin tirou o véu que se encontrava sobre os meus olhos, ocultando a verdade.

– Mas nem por um c*r@lho que vamos aceitar isso – retrucou Gala.

– Prima, eu vou ficar – falou Jasmin, decidida.

– Ah, ok, você vai… Tu tá maluca, Jas?

– Exatamente, irmã, tu estás bem?

– Estou e por estar bem é que eu sei que o tempo é nosso inimigo neste momento. E eu não quero ver sangue derramado, nem que seja desses esnobes – dito isso, Jasmin soltou o livro das suas amarras e o entregou nas mãos da sua irmã. – Vão, resolvam o que tem que resolver e voltem para me buscar, está bem?

– Sempre!

Rosa abraçou firme a irmã e beijou a bochecha dela. Gala também a abraçou e sussurrou um “se cuide” no ouvido dela.

As agora duas jovens foram escoltadas até o portal pelos guardas. Antes de sair, Galawel foi até junto daquele que parecia ser o mais forte deles e o nocauteou com um soco. Virou-se para o Ancião Mor, que observava a cena a distância e mostrou o dedo médio da mão direita. Feito isso, atravessou o portal para se juntar à sua prima Rosa, que já a aguardava no lado de fora do portal junto dos cavalos.

– O que foi isso, Gala?

– Só quis mostrar ao escr*t* do Ancião que ele tem muito o que temer. Agora vamos, não de fato tempo a perder.

Rosa teleportou elas duas e os três cavalos para longe do Bosque, para junto da frente de batalha que lutava para conter a praga dos gafanhotos.

Fim da Parte 3

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